O SAMBA NA BALIZA DE OSMAR.



Osmar Cesar de Carvalho, 51 anos,  batalhador do Carnaval Paulista. O homem morreu num domingo, 3 de maio de 1992, para tristeza da família, dos três filhos e da infinidade de amigos que granjeou em sua vida profissional, como empresário e advogado. Mas para o chamado "mundo do samba" de São Paulo, o sambista Osmar vive.   Sua  dedicação   e entusiasmo  na defesa e difusão da cultura popular brasileira são exemplos para serem seguidos pelas próximas gerações de sambistas. Nas rodas de samba, Osmar formou seu ideal. Aos 13 anos, faz seu primeiro desfile, tocando pratos. Com muito ritmo, atrai a atenção do público para a bateria da escola de samba Acadêmicos do Ipiranga. O prato exige muita habilidade e ritmo para ser tocado. Um elástico é amarrado à parte concava do prato e preso à mão do ritmista, que atira o instrumento no chão, na cadência da bateria. Osmar tocava com um prato em cada mão, aumentando o grau de dificuldade da execução do instrumento.   No início dos anos 60,   já reconhecido   como ritmista, Osmar, "O Rei do Prato",  mostra sua arte  como baliza da escola de samba Império do Cambuci, que na época possuía uma das melhores baterias da cidade. Osmar aprendeu os segredos do samba e compartilha com os "irmãos de fé" seus conhecimentos. Colabora com o inesquecível sambista Pé Rachado na formação da  Barroca Zona Sul, escola de samba da qual, a partir de 1977, ocupou a presidência  mais de uma vez.

Por sua iniciativa, a Barroca consegue integrar os japoneses ao samba mulato de São Paulo ao desenvolver um enredo mostrando os 75 anos da imigração japonesa no Brasil. Em 1982, atende chamado do sambista Geraldo Filme, participa de eleição e assume a presidência da União das Escolas de Samba Paulistanas (Uesp) Sua atuação é fundamental para o desenvolvimento das escolas de samba da cidade,pois pela primeira vez alguém une todas as agremiações em uma mesma  entidade. 
A frente da Uesp durante dois anos, Osmar também se destaca como líder comunitário. Advogado, palavra fácil, impressiona as autoridades governamentais ao defender os interesses do samba e a maior participação da comunidade negra nos destinos do País. Com sua experiência de administrador (por alguns anos foi diretor de instituição de ensino),  ele fixa a Uesp como  única  entidade  representativa dos sambistas de São Paulo.  Magoado com a reação de alguns sambistas descontentes com os resultados dos desfiles carnavalescos, Osmar se retira da Uesp em 1984, sem concorrer à reeleição, para se dedicar exclusivamente às atividades profissionais. Esse afastamento dura pouco tempo. 
A batida do samba é mais forte e ainda neste ano, ajuda a consolidar a Federação das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas do Estado de São Paulo (Fesec), sendo eleito presidente, cargo que ocupou em sucessivas reeleições. Na Fesec, juntamente com dezenas de abnegados colaboradores, Osmar encontra mais um espaço para contribuir com o desenvolvimento do samba. Dá forma e estrutura ao desfile carnavalesco das principais cidades do interior paulista e escreve o livro:-  "O Samba em Evolução".   
A publicação acaba sendo o embrião do  primeiro curso realizado no Brasil para formação de jurados especializados em desfile de escolas de samba. Com justo orgulho, Osmar vê o Rio de Janeiro, que reconhecidamente tem o melhor desfile de escolas de samba, instituir um curso de jurados, aos moldes daquele que criou para a Fesec. Hoje, os critérios de julgamento propostos por Osmar em seu livro estão incorporados a regulamentos de desfiles de escolas de samba ou servem de base para análise e instrução de jurados. Osmar Cesar de Carvalho não ensinou todos os passos do samba, nem era esta sua intenção. Mas deixou sua semente. Ela floresce entre os sambistas que frequentam a quadra da Barroca Zona Sul - naquele que foi seu último desfile, em fevereiro de 1992, no Sambódromo Paulistano, do qual foi ardoroso defensor, deu lição de humildade ao comandar a ala das baianas da escola - e em todas as rodas de samba do Estado de São Paulo, onde seu nome é reverenciado com respeito. Entre todas as honrarias que foi merecedor, Osmar tinha carinho especial por uma, entregue pela escola de samba Mocidade Alegre, em meados dos anos 80: o diploma "Sambista Imortal", por seus relevantes serviços prestados ao carnaval paulista.   

 Pesquisa: Dorinho Marques

 Texto:       David Neto

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