MANEZINHO ARAÚJO





“Pra onde vai valente? Vou pra linha de frente...” Esse é um verso de uma embolada de autoria de Manezinho Araújo um mestre nessa arte que exige do embolador muito ritmo e fôlego! Mas, o que vem a ser a embolada? Trata-se de uma das formas mais originais das músicas do folclore do Nordeste do Brasil, usando o recurso de sátira e humor, o embolador discorre sobre temas cotidianos como se fosse um cronista. Alguns consideram que a embolada tem sua origem na literatura de cordel. O nordeste tem sido uma usina de ritmos contagiantes, resultado da fusão de manifestações musicais locais com uma herança sobretudo africana. No século XX, vários desses gêneros se popularizaram pelo país: baião, frevo, maracatu e para o caso desta abordagem o coco, ofício dos cantadores nordestinos que criam rimas em profusão. Um modo de dizer a letra que guarda certa semelhança com o rap, porém com mais musicalidade e que obedece em geral aos compassos 2/4 e 4/4 da forma dos cocos com estrofe-refrão.

Manezinho Araújo – Manoel Pereira de Araújo – é natural de Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco. Nasceu no dia 27 de setembro de 1910.  Em Recife, aprendeu a cantar emboladas com o seu conterrâneo mestre Minona, um dos primeiros divulgadores do gênero. Manezinho Araújo compunha, cantava e pintava como autodidata, entre outras habilidades. Foi um quase combatente na revolução paulista em 1932. À época, visitou a Cidade Maravilhosa e na viagem de volta conhece Carmem Miranda e Almirante. Um soldado o apresentou: "Olha, tem um sargento aí que canta embolada como o diabo!". Graças ao encontro Manezinho foi levado para cantar na Rádio Mayrink Veiga, a seguir grava seu primeiro disco de emboladas, lançado no final de 1933. Até meados da década de 1950 emplacou vários sucessos. “Segura o Gato”, Sá Turbina”, “Como Tem Zé na Paraíba”,Cuma é o Nome Dele?”, “O Carrité do Coroné”, “Tadinho do Manezinho”, “Quando Eu Vejo a Margarida”, “Pra Onde Vai Valente?”, além de “Dezessete e Setecentos.  Ganhou fama de “rei da embolada” mas sua obra foi além destas, abrangia sambas, frevos, cocos e baiões. Participou de alguns filmes e muitos cinejornais da Atlântida. Toma parte na primeira experiência de televisão no Rio de Janeiro. Chegou a produzir e apresentar programas de rádio, também fez jornalismo no rádio e na imprensa. Foi um dos primeiros garotos-propaganda do Brasil cantando jingles. Detalhe: era flamenguista fanático, ou talvez mais por Leônidas de Silva, o Diamante Negro, de quem foi muito amigo. Em 1954 decide abandonar a carreira de cantor e compositor com um show que reuniu mais de 10 mil pessoas. Daí resolve abraçar de vez a pintura e a paixão pela culinária nordestina. Auxiliado por sua mulher, Dona Lalá, Manezinho abriu o restaurante Cabeça Chata em Copacabana – RJ., que atingiu fama nacional e internacional, com a mais distinta clientela: "Foi desde o nortista mais simples ao presidente da república!O vatapá da casa deu até em música: “Vatapá, vatapá, a moda é cumê vatapá”. É famosa até os dias de hoje uma receita de merengue de banana que leva o nome de Manezinho Araújo. Sete anos depois, Manezinho transfere seu restaurante para São Paulo, na Rua Augusta. - "Sou paulista carteira modelo 19, aqui sou tratado com muito carinho" - Seguiu pintando em arte naif os tipos regionais brasileiros, viveu até o fim dos seus dias na sua terra de adoção e coração. Faleceu em São Paulo em 23/05/1993. Assim cantou Manezinho... “Cuma é o nome dele?”.Nunca ouviu falar? Procure saber! Os 103 anos do artista, que nada fica a dever a outros mais festejados, celebra uma obra plural e que não deve passar em branco. Fomentar a cultura autêntica de um país é fortalecer suas conquistas. Salve o Manezinho!                                                                                                         
Arte Naif













NINGUÉM PÕE MÃO                        
Sambolada inspirado em Manezinho Araújo - O Rei da Embolada.
                          Dorinho Marques/Zé Nivio

Não, não, não
No rabo do macaco ninguém põe a mão

Sou galo velho brigador que tem espora
Tem arenga no terreiro não posso ficar de fora
Pisou no calo não me calo não
Fico bravo logo falo é ruim se arrepender
Nem titubeio, fico vermelho na hora
Que nem camarão pistola não tenho nada a perder

Vai caramujo... Se entocar no que é teu
Sou Mané, sou Araújo, tudo isso é meu
Abre o olho, vacilão! Tô ligeiro
Meu pandeiro é maneiro na concentração

Simbora agora embolar nessa embolada
Embalar na madrugada esparramar pelo salão
Tem um troço que eu não gosto e acho feio
É falar mal do alheio e arrumar perturbação
Eu dou pernada boto a família no meio
Dou um bico pra escanteio eu não sou bagunça não
                                   Dorinho Marques
                                                Setembro/2013
                                    dorinhomarques@yahoo.com.br



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