MESTRE PÉ RACHADO
SEBASTIÃO EDUARDO AMARAL
Primeiramente é com muita honra que escrevo
um sentimento sobre a pessoa do Sr. Sebastião Eduardo Amaral – codinome Pé
Rachado – que o povo do Samba aprendeu a respeitar. Quem teve o privilégio de
conviver com ele na atividade que mais apreciava - o Samba puro e verdadeiro –
e que assistiu sua determinação e disciplina na defesa da sua cultura nos
inúmeros desfiles ora comandando a batucada, ora liderando a harmonia da escola
sabe do que eu estou falando. O mestre Pé Rachado tornou-se uma lenda e não foi
por acaso. A nova geração tem agora nesta celebração do centenário do seu
nascimento a oportunidade de conhecer e compreender a dimensão da importância
de homens como o Sr. Sebastião para a preservação da cultura negra e das raízes
do Samba. Teve sua juventude formada entre as Congadas lá das minas gerais,
chegou a São Paulo e se fixou no Bixiga onde atuou primeiro como ritmista, a
seguir, harmonia até ser consagrado como presidente do cordão Vai Vai. Sua fama
atravessou fronteiras e a famosa Mangueira também pode contar com a destreza do
mestre. Quando o seu ciclo se encerrou na Vai Vai não houve aposentadoria do
velho Pé. Incentivado pelos amigos da Vila Mariana resolveu “tirar” uma nova
escola a Barroca Zona Sul que ele denominou Faculdade do Samba que teve um
início triunfante e enquanto ele esteve no comando foi respeitada. Sofreu uma
grande injustiça quando o consideraram ultrapassado para os novos rumos que o
carnaval apontava. Aborrecido com as circunstâncias afastou-se sem alarde. Bem,
as glórias e conquistas desse homem estão nos anais da história do samba
paulistano e não preciso descrevê-los. O que eu quero ressaltar é a sua
importância como baluarte do nosso carnaval. Esta solenidade, ainda que tardia,
corrige o lapso da memória desta cidade. O nosso saudoso mestre tem a mesma
estatura e importância de outros grandes sambistas pioneiros, embora nem sempre
citado. Espero que a partir de hoje o
seu nome fique definitivamente gravado no coração dos paulistanos.
São Paulo junho de 2013
Dorinho Marques
O Samba,por Pé Rachado. "No meu tempo, entrar na bateria da escola de samba era uma das coisas mais difíceis.Eu mesmo, para pegar o surdo do Vai Vai tive que entrar na fila e só consegui porque um companheiro chamado "Golpe de Azar" faltou ao ensaio e eu tive a chance de pegar no surdo. Foi um golpe de sorte." Estas são palavras de Sebastião Eduardo Amaral, popularmente conhecido como Pé Rachado, um dos dirigentes históricos da vida da escola. Ele, com 68 anos, um mineiro que desde 1930 faz parte dos centros sambísticos da cidade viu os principais símbolos do samba paulista."Cheguei em São Paulo, de Baependí, por volta de 1932 e no primeiro ano que vi o Vai Vai no Largo São Francisco eu gostei do batuque deles. Não tinha nada a ver com marcha ou com rancho e um amigo me explicou que a escola era do bairro. Eu morava na Bela Vista e no outro ano eu já era do Vai Vai..."Considerado um dos maiores diretores de harmonia de São Paulo, além de um dos principais tocadores de surdo, ele viu o desenvolvimento de todos os instrumentos em São Paulo e seus tocadores: "Naquele tempo já existia Salim. Salim era um dos bumbos do Vai Vai naquela época, era o mais velho, depois vinha o Geribá, que era o rei do prato. Foi ele quem inventou o prato em São Paulo...um prato só com baqueta, mas fazendo samba. Naquele tempo tinha os balizas. Nós tivemos um baliza que igual a ele não existia nenhum outro, era o David, depois dele vinha o Dito Preto. Muitas mulheres foram balizas e uma das melhores foi Risoleta. - Pé Rachado, viu também como o samba se desenvolveu em São Paulo - "Naquele tempo o pessoal era mais esforçado e fazia a roupa por conta. As despesas que tinham não eram tão grandes como hoje." - Ele lembra também que os cordões não tinham enredo, mas iam para a avenida cantando um samba do próprio cordão. - Não tinham, digamos , enredo e todos iam mais como marinheiros; inventaram outras fantasias, mas a do marinheiro persistia". - O primeiro tema de desfile do Vai Vai foi marinheiros. Outro aspecto importante que Pé Rachado conta é a rivalidade entre os cordões e os bairros: "Quando a gente se encontrava no Largo São Francisco era aquele debate..." - E ele fala com um tom indisfarçável de nostalgia: "tempos de carnaval a gente era obrigado a vestir a roupa mais velha porque quando ia para a rua tinha certeza que ia ter que quebrar o pau. Tinha desencontro, então a gente ia preparado..." - Mas Pé Rachado prefere ficar nas boas lembranças de Chico Pinga tocando cavaquinho na Pça das Bandeiras, Pato N'Agua, dançando tiririca e desafiando qualquer valente disposto a cometer injustiças, ou brincando de tiririca e samba de perna na Praça do Correio, lembranças que não voltam mais..
Entrevista realizada pela Revista Ébano - ano I - nº 4-5 Fev/Mar - 1981
Mestre Pé Rachado
Sebastião Eduardo Amaral
Pessoa que o Samba não pode esquecer
Por esse nome de batismo, garanto,
Muita gente não vai reconhecer...
Mas pelo seu apelido
É bem conhecido e considerado
Agora todos vão saber:
Estou falando do mestre Pé Rachado
Ele veio de Minas dos tempos da congada
Para animar o carnaval paulista
Viveu plenamente no Bixiga
E foi presidente do Vai Vai
Saudade vem...Lá do meu cordão!
No entanto aquela saudade
Um dia não mais o sufoca
Fundou a Faculdade do Samba
Nossa querida Barroca
Oh! Minas Gerais, oh! Minas Gerais
Muito Obrigado!
Por ter nos dado um rei dos carnavais
Samba de 1976 de autoria de Zé Carlinhos
Bem eu não convivi com o Pé Rachado mas algo me toca e não sei explicar quando ouço alguem falar dele vejo foto dele ou me remeto ao meu padrinho Binha enfim é uma coisa muito forte que não da pra explicar ... só lutando mesmo em prol de sua memória
ResponderExcluirAXÉ DORINHO
AXÉ PÉ RACHADO
Olá! Seria possível conseguir/adquirir em algum lugar este livrinho da sessão solene do centenário do sambista Pé Rachado?
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