THEREZA SANTOS - MALUNGA GUERREIRA




Algumas pessoas que conhecemos pela vida afora são personalidades marcantes e inesquecíveis... Assim foi com a Thereza Santos - (1930-2012). Seu nome de batismo era Jaci dos Santos, uma mulher carioca, professora, educadora, atriz, teatróloga, carnavalesca, militante política, ativista engajada nas causas do povo negro. Conheci-a num ensaio de escola de samba na década de 1980. Era muito exigente nos cuidados de cada detalhe de um desfile, mas principalmente defensora dos valores e preceitos e fundamentos do Samba. Escrevia enredos, participava da montagem, ajudava a definir o melhor samba, ensaiava a comissão de frente entre outras atividades e com conhecimento de causa. Algumas das nossas principais escolas tiveram sua ajuda – Camisa Verde, Peruche, Rosas de Ouro, X9 Paulistana, Mocidade Alegre e outras mais. Quis o destino, depois de alguns anos, de eu ter a oportunidade de conviver alguns meses trabalhando em parceria na realização de um carnaval para a Barroca Zona Sul. Formamos um time para tentar levar de volta a escola ao grupo especial. O enredo escrito a quatro mãos, era “Quem Não Samba, Dança.” Desfilando pelo acesso conseguimos apenas o 4º lugar porque a escola não teve recursos para realizar o projeto integralmente, mas aquela experiência ao lado de Thereza Santos só aumentou minha admiração por ela. Era Mangueirense mas tinha orgulho de ter participado do projeto Kizomba da Vila Isabel de 1988. Foi comentarista de desfiles nas transmissões  da Band, Gazeta e Cultura. Era uma guerreira. Atuou na Coletivo de Mulheres Negras e foi conselheira do Conselho Estadual da Condição Feminina. Entre 1986-2002 foi Assessora de Cultura Afro-Brasileira da Secretaria de Estado da Cultura do Estado de São Paulo. 




Estudiosa dos temas raciais e de gênero, ela viveu por cinco anos no Continente Africano, contribuindo para a reconstrução cultural de Angola, Cabo Verde e Guiné Bissau. Atriz, estreou no cinema em 1957 no filme O Cortiço. A seguir, na premiada produção franco-brasileira, Orfeu Negro. Atuou em algumas peças de teatro entre elas Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto. Sua estréia na TV foi em 1969 - Nino, o Italianinho. Apareceu com destaque ainda em Mulheres de Areia (1973)., A Fábrica entre outras.Integrou o Teatro Experimental do Negro. Ela escreveu e encenou uma das primeiras peças teatrais para um grupo exclusivamente formado por negros. Em 1973, durante a ditadura militar,  em parceria com o sociólogo Eduardo de Oliveira apresentou no Teatro do MASP "E, agora, falamos nós". 
Mulheres de Areia
Mulheres de Areia










O livro Malunga Thereza Santos - a história de uma guerreira, de autoria de Thereza Santos, apresenta aspectos da história de sua vida, infância, construção da consciência negra, participação nos movimentos estudantil e político brasileiros, exílio em países africanos, em lutas pela libertação de países africanos, militância em prol da comunidade negra no Brasil, Guiné Bissau e Angola, vida política, discriminações sofridas e teatro e carnaval como instrumentos de luta. Vivências que a transformaram em uma guerreira.

Em 2012 pouco antes de morrer, recebeu o Prêmio Espelho D'água, pelo Projeto Oxum Rio Ijexá de Mãe Iva d'Oxum. Foi como uma menção honrosa a sua vida generosa.


No ano de 2007, a Escola de Samba carioca Unidos do Cabral apresentou num desfile singelo porém sincero, uma homenagem a Thereza Santos que muito contribuiu para a cultura brasileira. Assim ficará a guerreira Malunga guardada para sempre no coração do seu povo.                                    
              


                          Thereza Santos, Kizomba, Consciência e Liberdade
Autores (Betinho, Davi da Viola, Fernandes Jr., J.Eduardo, JP, J.Pro Kana, Luis Fernando, Magrão e Ricardinho Professor)

Oh bela e formosa ô, jóia rara pioneira
Na luta na força da fé, raiz afro-brasileira
No rádio, jornal e TV, teatro em cena
És poema, guerreira negra contra a discriminação
Tereza Santos, a musa que inspira essa canção
É voz que não cala, a mão que embala
Canta, filho deste chão
Ilê Ayê, oh mãe África
Meu canto de fé nagô
Sou negro, sou forte na senzala
Ouça o rufar do meu tambor
África, seus costumes e tradições
Mistérios a desvendar, culturas, religiões
Quizomba, consciência e liberdade
Retrata toda a conquista de uma raça
E hoje exige paz, prosperidade
Amor, respeito e igualdade, então
Chega de fome e qualquer forma de opressão
Tem capoeira, vem pessoal
Roda baiana, é carnaval
É canto, é dança, é axé
Jaci é luz, é mulher
A homenagem da Unidos do Cabral
                               Dorinho Marques
                           São Paulo/Janeiro/2013                                dorinhomarques@yahoo.com.br
                                     


Comentários

  1. https://msgzen.blogspot.com.br
    Blog com Frases célebres e Fotografias de minha autoria
    Msg de Hj: Thereza Santos
    Fotografia: Forte de São Felipe (Guarujá, SP)

    Gostou? Então siga https://twitter.com/MensagemZen

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  2. Olá , gostaria de saber sobre a autoria das fotografias de Thereza Santos. Pergunto pq gostaria de usar uma ou duas em um trabalho que estou fazendo.
    Você tem o contato de quem fez as fotografias em destaque?

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