O SAMBA RURAL PAULISTA.
O SAMBA RURAL PAULISTA
Foi na região centro-oeste de São Paulo, - séc. XVIII
- que o Samba Rural se desenvolveu. Entre o final do séc. XIX e início do séc.
XX se expandiu ao sul de Minas Gerais e à região metropolitana da capital
paulista. No sudeste ele foi ligado ao lazer da atividade cafeeira. Com o fim
do ciclo do café, a abolição e o êxodo rural, as populações de afrodescendentes
vieram a implantar o samba rural na capital paulista e arredores. Festas
religiosas, como as de São João, Santo Reis, Nossa Senhora Aparecida, Bom Jesus
e São Benedito antecediam os encontros de grupos de samba de diversas
localidades e eram divididas entre brancos e negros caipiras. Rezas, ritos, comes e bebes e muito samba. Segundo
as pesquisas de Mário de Andrade, os grupos, associações, cordões, ranchos que
vieram a se organizar numa entidade, tiveram uma figura central, um chefe, o dono-do-samba.
"Os homens tocam seus instrumentos de percussão onde o bumbo predomina,
vão se revezando, as mulheres dançam e cantam e todos riem e bebem". No
começo do século 20, o samba de Pirapora podia ser descrito como uma festa profano-religiosa.
Eram negros provenientes de São Paulo e do interior paulista, municípios como
Campinas, Tietê, Capivari, Piracicaba, Sorocaba, Tatuí e outras cidades, faziam
de Pirapora o seu ponto de encontro. Era comum uma "embaixada" de
outra cidade comparecer ao evento. Ali
seus costumes caipiras e a maneira do samba praticado se consolidariam. O Samba
Rural Paulista vem da mistura de várias modalidades como Samba de Umbigada,
Samba de Lenço, Jongo, Tambu, entre outros. Houve uma fusão de linhagens
originadas no intercâmbio dos grupos que ano a ano visitavam os famosos
barracões de Pirapora. O Samba Rural migrou para os centros urbanos fincando as
raízes do Samba Paulistano. Reunir para uma "função" e celebrar algo
ou simplesmente dançar o samba, era diversão garantida. Apesar do
desenvolvimento industrial e da urbanização da capital paulista o Samba Rural
envergou, mas não quebrou. Trata-se de uma manifestação cultural vigorosa. O
urbanismo das cidades, a predominância de outros ritmos, hoje difundidos por
toda parte, diminuiu o espaço do samba rural, mas um ouvido e um olhar mais
acurado e o interesse por nossas autênticas manifestações pode nos levar a
verdadeiras relíquias preservadas em sua essência. Os pioneiros da implantação
do Samba Paulistano como - Dionísio Barbosa, Madrinha Eunice, Carlão do Peruche,
Pé Rachado, Nenê da Vila Matilde, Silval e muitos outros beberam nessa fonte.
Os nossos baluartes relataram seus passeios e visitas em datas festivas em cantorias que varavam um dois , três dias.
Um terreiro, um grupo de pessoas, geralmente um solista de improviso "tirando um samba" e o
coro respondendo. O batuque na primazia do bumbo. Henricão, Geraldo Filme, Toniquinho Batuqueiro, Osvaldinho da Cuíca, Zeca da Casa Verde, Ideval Anselmo, João Borba
entre outros, são compositores paulistas que vivenciaram a transição do rural
para o urbano, difundiram o gênero e percebe-se claramente em alguns dos seus
sambas, as influências rurais. Convém lembrar que temos compositores da nova
geração cultivando e preservando a tradição do samba rural. Entre as várias vertentes do Samba, o samba
rural é um dos mais genuínos. Atualmente
essa manifestação com raízes rurais ocorre nas cidades de Mauá (Grupo "Samba-lenço"), Piracicaba, Pirapora do Bom Jesus (grupos “Samba de
Roda”, “Vovô da Serra Japi” e Samba de Bumbo Honorato Missé”), Quadra (grupo
"Filhos de Quadra"), Rio Claro, Santana de Parnaíba (grupos
"Grito da Noite" e "Treze de Maio") e Vinhedo (grupo
"Samba da Dona Aurora"). Manifestações tradicionais e populares que
precisam estar inseridas no contexto histórico das cidades agindo como
revitalizadoras de grupos de outras localidades como as de Sorocaba, Tietê,
Piracicaba, Vale do Ribeira, Campinas, Itu, Salto e em outros estados como
Minas Gerais. Hoje em Pirapora funciona
um centro de Memória do Samba Paulista conhecido como a Casa do Samba, situado
na Rua José Bonifácio nº. 226 centro.
Consulta.
(ANDRADE, Mário de. O samba rural paulista. In
CARNEIRO, Edison. Antologia do negro brasileiro)
MANZATTI, Marcelo Simon. Samba Paulista, do centro
cafeeiro á periferia do centro: estudo sobre o Samba de Bumbo ou Samba Rural
Paulista. Dissertação de Mestrado. Departamento de Ciências Sociais. São Paulo:
PUC. SP. 2005.
IEDA, Marques Britto. Samba na cidade na cidade São
Paulo (1900-1930): um exercício de resistência cultural. São Paulo: FFLCH/USP,
1986.
Prefeitura Municipal de Pirapora do Bom Jesus
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