RAIZ DO ÉBANO









Geraldo Filme, na minha opinião, foi o principal sambista desta cidade. Respeitando a importância de outros tantos baluartes do samba paulistano. Acontece que Geraldo Filme era determinado e pensava sempre no coletivo. Compositor original, com seus sambas de poesia e melodia consistentes com influências urbanas e rurais. Compôs em sua maioria temas voltado às suas origens e falava do cotidiano com consciência social. Não bastassem seus dotes artísticos, foi um grande aglutinador e incentivador de pessoas no desenvolvimento da cultura e do carnaval, não só da capital como também de cidades do interior de São Paulo. Deveria ter gravado mais, mas a vida do sambista de rua nunca foi fácil. Geraldo além de compor muito bem, era afinado e dono de uma voz cristalina e podemos conferir em seus discos. Eu falo por mim, não conheci ninguém mais generoso e atencioso com os jovens que tinham vocação para o samba. Dentro do pensamento do mestre, todos deveriam participar das agremiações carnavalescas sem distinção de cor, de credo ou qualquer outra coisa. Defendia e orientava os compositores das escolas para reivindicarem seus direitos autorais. Cobrava respeito à velha guarda do samba. No seu trabalho administrativo foi sempre lúcido e coerente e procurava trazer para a organização do carnaval pessoas de fato oriundas das agremiações carnavalescas. Fiz algumas coisas no carnaval e sempre busquei sua orientação. Certa ocasião fui seu parceiro homenageando o Diamante Negro, que foi rei momo em São Paulo, para a Escola de Samba Rosa de Prata, de Campinas. Guardo no coração com muita honra. Quando ele morreu, a Escola de Samba Colorado do Brás, da qual ele era colaborador à época, no carnaval de 1996, prestou uma última homenagem com o enredo: “Ao Mestre com Carinho, Geraldo Filme.” - Eu concorri com um samba em parceria com Ideval Anselmo, não fomos os vencedores, mas fiquei feliz do mesmo jeito. Anos depois tivemos o nosso singelo samba registrado em cd pelo projeto SPEmRetalhos. 
O projeto SPemRetalhos incluiu em um dos seus cds o samba de autoria de  Dorinho Marques e Ideval Anselmo - Tributo a Geraldo Filme - uma homenagem ao mestre, com carinho!
DORINHO MARQUES
IDEVAL ANSELMO


Geraldo Filme


TRIBUTO A GERALDO FILME
 Em cena com Geraldo Filme
A história real de um artista de fato
Simbolizando a vitória
A bandeira da glória na poeira do asfalto
Filho de Xangô ôô... Sambista imortal
Genial compositor... Rei do carnaval
Pirapora êê...Largo da Banana
Joga tiririca menino, no meio de bamba!
Pirapora êê... Bixiga e Liberdade
     O couro tá comendo malandro 
Em toda cidade
Nas quebradas do mundaréu
O canto do menestrel
Despertando o amanhã
Rei Café e Chico Preto
No palco o enredo é Balbina de Iansã
Raio de luz...toda passarela clareou
Paulicéia desvairada, os cordões, a batucada
A semente que plantou.
          REENCARNAÇÃO  Geraldo Filme
"Quero ser sambista 
 Ao renascer de novo
 Pra cantar a alegria
 E desventura do meu povo
 Quero ter muitos amigos 
 Como tenho atualmente
 Cantar samba na avenida
 E nascer negro novamente"

Geraldo Filme foi um dos principais sambistas de São Paulo. Nasceu em São João da Boa Vista, no ano de 1928. Ainda criança veio para a Capital. Seu pai, tocador de violino e sua avó que lhe ensinou os cantos de escravos, o influenciaram musicalmente. Foi entregador de marmitas da pensão de sua mãe no bairro de Campos Elíseos. Foi no bairro da Barra Funda no Largo da Banana, que ele passou a infância observando os improvisos dos trabalhadores na roda de samba e tiririca (tipo de disputa com pernadas). Sua mãe fundou o primeiro cordão carnavalesco formado só por mulheres negras, que mais tarde transformou-se na Escola de Samba Paulistano da Glória que ele veio a presidir por vários anos. Geraldo compôs e escreveu enredos de valorização da cultura negra para várias agremiações, entre elas, destaque para Peruche, Vai Vai e Paulistano da Glória. Participou do Teatro Popular Brasileiro, de Solano Trindade.  Na década de 70 fez parte do espetáculo musical de Plínio Marcos – “Em Prosa e Samba nas Quebradas do Mundaréu” que gerou um LP antológico (c/Zeca da Casa Verde e Toniquinho Batuqueiro –LP/1974 – Continental).  Em sua obra aparece o samba rural paulista ("Batuque de Pirapora", "Tradições e Festas de Pirapora"), que trazem elementos do jongo, vissungo e batuque. Deixou poucas gravações. Em 1980, aos 52 anos, lançou pela Eldorado o primeiro LP. “Geraldo Filme”. Outra importante gravação de cunho documental e histórico – O Canto dos Escravos – com Clementina de Jesus e Doca da Portela (Eldorado 1982) – Podemos ouvir também sua música no CD de 1994 (Velas) Beth Carvalho Canta o Samba de São Paulo. Geraldo Filme tem o nome ligado à história do carnaval paulista. Nos últimos anos de vida trabalhou na organização do Carnaval da cidade. Faleceu em 1995.                                                              
Fonte da pesquisa: Pé no Chão / Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira/ Agenda do Samba e Choro 
RAIZ DO ÉBANO
Vou dar uma geral...do Filme
Enredo afro
Raiz do ébano
Longa metragem
Movimento negro
Feliz sequência de imagens
Rodado em cinemascope
Preto no branco e vice-versa.
Riso franco
Astro reluzente na tela
Não  era de fazer fita
Costumava roubar a cena
Luzes, câmera, ação! 
Produção: Tirava  da cabeça o que o bolso não tinha.
Roteiro: Pirapora, Barra Funda, Campos Elíseos, Bixiga, Liberdade.
Trilha sonora: Batuque, samba, ladainha, partido alto.
Pisou forte no asfalto
Rei dos carnavais



Não foi campeão de bilheteria.
Sambista não paga.
Direção: O amanhã
FIM
                          Dorinho Marques    











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