DIAMANTE NEGRO


   
No ano de 1993 atendi a um chamado do grande Geraldo Filme para montar um enredo para uma escola de samba da cidade de Campinas - o GRES Rosa de Prata - que queria homenagear o rei momo de São Paulo o famoso "Diamante Negro", figura emblemática do carnaval paulistano. Aceitei prontamente. Afinal, seria uma honra partilhar de um trabalho com o mestre Geraldo. O Diamante era motorista particular e por isso fomos algumas vezes a Campinas à bordo de um carrão de luxo - eu e minha mulher Márcia - passeando pela rodovia Anhanguera, ouvindo deliciosos casos e colhendo assunto para o tema da Rosa de Prata. Foram belos momentos!
No ano de 1928, na cidade de Cravinhos, sob o signo de Leão e a proteção de Xangô, nascia o filho do seu Benedito e de dona Bárbara, o sr Otávio Antonio Silvério, mais conhecido como "Diamante Negro". Como todo moleque interiorano, teve uma feliz infância fazendo muitas artes. A imaginação do mesmo foi enriquecida pelo avô Otaviano, que lhe contava mil estórias sobre os antepassados que vieram do Congo e de Angola e que trabalharam como braço escravo nas lavouras de café da região ribeirãopretana. Entre tantas lembranças ficou o forte traço cultural das festas dos negros como a Coroação do Rei do Congo e a Festa de São Benedito ou do jongo do ponto cantado e das rodas de samba. Em 1933 transferiu-se para São Paulo, no bairro de Vila Prudente. Estudando ou jogando futebol de várzea o garoto Otávio ainda não sonhava que um dia tornaria-se o rei da folia. Sua vocação de sambista foi aumentando na medida que frequentava as rodas de samba do Lavapés e Cambuci ou quando desfila nos antigos cordões paulistanos. Em 1950 casou-se com dona Alice com quem teve oito filhos. Mudou para a cidade de Igaratá, foi quando afastou-se do mundo do samba para dedicar-se à família e ao trabalho. Foi inspetor de alunos - 35 anos - e motorista da rede Globo, na equipe do Fantástico, foi lá que recebeu  o apelido de Diamante de Negro. Na década de sessenta retornou à São Paulo e logo o samba invadiu novamente sua vida. Em 1964, Diamante ao lado de amigos criou a escola de samba Príncipe Negro. Faziam parte desse grupo de sambistas: Landão, Wilson Dias, Alcebíades, João Preto, Fubá e outros. Nos carnavais da avenida São João e depois na Tiradentes, Diamante desfilava sempre como destaque fantasiado de príncipe. Em 1982 a escola Príncipe Negro fundiu-se aos Cabeções formando então a União Independente de Vila Prudente. Diamante seguiu desfilando e fazendo parte da diretoria. O carnaval de São Paulo ficou com o trono de rei momo vago em virtude da morte do popular Henricão, (autor de vários sucessos da mpb).
HENRICÃO
Toda comunidade do samba desejava preencher essa lacuna com outro autêntico sambista e um rei momo negro seria o ideal. Os amigos Tunão e Formiga estimularam o Diamante a participar do concurso de Momo. Disputou nos anos de 1985/86/87 classificando-se sempre em segundo lugar. Persistiu até chegar 1988 - data da comemoração do centenário da abolição - e finalmente o Diamante Negro foi o escolhido para representar os festejos. Foi eleito sem contestações. Reinou ainda em 1989, 1991 e 1993, sempre com aprovação popular. Diamante expressava seu sentimento nos eventos que participava com estes dizeres: Hoje sou um representante nato de todas as comunidades de São Paulo, Deus me dê saúde, amor e paz para que eu leve a bandeira do samba como sinônimo de alegria a um povo que merece muito mais. Deus permita que a violência seja banida do cenário da côrte
               Texto: Dorinho Marques


                                                

         
DIAMANTE NEGRO
                       Geraldo Filme/Dorinho Marques

Brilhante é o Diamante Negro
Que a Rosa de Prata lapidou
Jóia preciosa da alegria, campeão da simpatia
Sob a proteção de Xangô. kaô!
Cravinhos a sua terra natal, estórias do cafezal
São Benedito e Coroação
Moleque bamba no jongo e no samba
Hoje é recordação
Chora cavaco ioiô, chora viola iaiá
Deixa a roseira balançar
Na Vila Prudente o sambista inicia
Príncipe Negro acostumou na fantasia
Independente desfilou com galhardia
Viva o rei!!! No século da abolição
Um rei momo negro era ideal
Que beleza! a consagração
Diamante Negro... por três dias decretou
Samba, amor e paz e toda côrte festejou
Dindinha Lua veio clarear
Um mar de rosas ela prateou
A passarela vai se encantar
Do jeito que o rei mandou

                 




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