UM CASAL NOTA DEZ.

                                     

Corria o ano de 1974, a Rua Padre Machado na Vila Mariana era o endereço do Samba. Eu era um aprendiz, e um amigo o Caco, filho do Venâncio Poliglota, que integravam a Camisa Verde, achou por bem me apresentar como um novato compositor aos sambistas da recém fundada Barroca Zona Sul. Quis o destino que eu conhecesse a Faculdade do lendário mestre Pé Rachado. Lá se vão 36 anos... Ali iniciei a minha trajetória nos prazerosos caminhos do samba paulistano. Eu não tinha experiência, mas tinha muita vontade de participar do projeto de estréia do carnaval da Barroca. Carnaval é sonho e ilusão, e assim como um Cabral embarquei em busca de novos mares e terras e assim foi. Escrevi meu primeiro samba enredo, com a precisa amarração das cordas do violão de um velho amigo, o Jason e na disputa com outros três sambas – um deles de autoria, nada menos, do genial Talismã – sai vencedor. A escola se preparou e como era previsto foi a campeã do grupo III. Foi a maior alegria na Vila do Pé Rachado, a comunidade estava orgulhosa, sim naquela época os esforços eram divididos, nada vinha pronto, tudo estava por fazer e todos faziam... Eu então, de Dori virei o Dorinho da Barroca!  Bem mas essa introdução serve para remontar o cenário onde conheci grandes personagens do samba paulistano. O tema era A Primeira Chegada de Escravos no Brasil de autoria do Pé Rachado que narrava o enredo como se ele o tivesse vivido, e hoje, acredito que ele viveu mesmo! Aí é que entrava o professor Wilson explicando o conteúdo histórico etc. o professor era Wilson Rodrigues de Moraes, arquiteto, pesquisador e escritor que tem um livro importante -  Escolas de Samba de São Paulo – e que virou mestre sala ao casar-se com a porta bandeira Marina.
Marina e Wilson
Marina Luíza – carioca da Vila Isabel, que desfilou por vários blocos do Rio de Janeiro entre eles; Bafo da Onça e Estrela do Botafogo desfilou em ranchos e escolas no Rio antes de vir parar em São Paulo e atuar no grupo de Solano Trindade. Casou-se com Wilson Rodrigues de Moraes. Desfilaram como casal de ms&pb empunhando o pavilhão da Camisa Verde e Branco do Inocêncio Tobias. Quando o Pé Rachado fundou a Barroca e convidou-os para integrar a nova escola vieram somar à grande gama de sambistas que atenderam ao chamado do mestre. Marina e Wilson formavam um par harmonioso no samba e na vida. A presença do casal na escola estava ligada à presença do Pé Rachado no comando. Com a ascensão meteórica da Barroca vieram também as divergências e disputas políticas e aborrecido, Pé Rachado afastou-se da presidência e com êle Wilson, Marina e outros mais. Houve idas e vindas do Cardeal Pé Rachado e do casal porém sem o entusiasmo dos três primeiros anos. Depois de deixarem a Barroca o simpático casal desfilou alguns anos pela Vai Vai do Bixiga. Muitos, daquele período, já partiram para o reino da glória, outros tantos ainda estão abrilhantando os desfiles por aí.. Alguns parece que esconderam-se,desiludiram-se, talvez.
Quando a porta bandeira subiu o folião despiu a fantasia. Em 2010 deu o adeus definitivo e partiu ao encontro da eterna parceira.                                 
Pesquisa e texto: Dorinho Marques





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