O POMO DA DISCÓRDIA


                                                      
Perguntado certa vez sobre o que eu pensava sobre o sucesso artístico respondi que preferia prestígio ao sucesso. Hoje em dia o sucesso significa muitas vezes, a fama banalizada que dá sustentação à mediocridade vigente. Os mercadores de plantão destacam o que se rotula de música pop, mas na verdade não contemplam a produção de muitos artistas populares.  Prestígio resulta em permanência em valorização e, por conseguinte, respeito, que é afinal o que todo artista almeja. Portanto arte não é qualquer coisa!
É comum ouvirmos o relato de um autor tentando descrever o sentimento de ouvir pela primeira vez uma canção sua num veículo de comunicação. A satisfação é indescritível, se vem acompanhada de elogios o autor sente-se recompensado e encorajado pra seguir em frente. Mas o que vem a seguir para o verdadeiro artista é a necessidade de produzir um novo trabalho de não deitar sobre os louros da glória. A música quando boa segue o seu curso natural e a obra torna-se permanente.
O Samba é sempre referendado quando por algum motivo de marketing precisam vender o país do futebol e  carnaval. Porém o mesmo não ocorre nos meios de comunicação quando o assunto é a divulgação e difusão desse mesmo Samba. Em resumo - o Samba está oprimido num mercado dominado pelos modismos e estereótipos da música de massa - seja nacional ou estrangeira. Um quebra cabeça para todos compositores preocupados com a direção que o vento sopra! Por um lado, disputar o mercado de cartas marcadas. Pagar para “existir.” Por outro, buscar alternativas independentes mais a longo prazo e investir na formação de um público ávido de voltar a se identificar com sua própria cultura. A segunda opção é a que me parece ser a mais adequada, porém, outras vias podem e devem surgir, se o próprio sambista intensificar o debate desta causa fundamental de nossas vidas.

Não obstante a confusão já está armada queiram ou não o pomo da discórdia foi colhido. Hoje existe uma corrente de autores e intérpretes da MPB que defendem que o samba não tem dono, que o samba é globalizado, que o samba deve ser modernizado e que não há mal nenhum em misturar com outros gêneros etc. Sem querer dar uma de raizeiro, xenófobo ou qualquer outro adjetivo usado pelos modernos, quero dizer: "peraí", devagar com a louça... A criação cultural no Brasil é rica e diversificada e nos tempos cibernéticos tornou-se impossível imaginarmos uma arte imune, sem estrangeirismos. Mas o que essa “corrente” está querendo é ocupar os espaços vendendo a ideia de que são “sambistas” atuais e que “respeitam” a ancestralidade do Samba. Na verdade querem “aposentar” o velho e tradicional sambista, dando-lhe um “pijama” e uma condecoração por serviços prestados. E o que propõem botar no lugar? Pelo que tenho visto e escutado por aí, tudo, menos Samba. Músicos em geral oriundos da classe média escolarizada acreditam que basta pesquisar o gênero para utilizá-lo como matéria prima da sua criação. Esse samba de vitrine só é samba porque os autores anunciam nos versos, no mais é uma música híbrida que exclui a percussão mais “pesada” e introduz o instrumental das novas tecnologias em detrimento da base acústica tradicional atendendo ao apelo da estética promovida pela visão “globalizada”, comprometida com uma crítica vendida dos formadores de opinião.
O que eu vejo como principal é a luta de um grande contingente de sambistas em sua maioria de poucos recursos financeiros que fazem resistência contra a exclusão que afinal é social e influi diretamente no acesso aos meios de produção. A fusão do Samba com outros gêneros pode até ser inevitável, mas o casamento tem que ser à moda antiga, consentido e com respeito aos valores mais nobres e o que tem que prevalecer é a autenticidade da expressão do povo que o produz e consome. Até breve.
                                                       Dorinho Marques
                                                                             Outubro/2011
                                                               dorinhomarques@yahoo.com.br


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