BRANCA DI NEVE







Vitimado por um derrame cerebral aos 38 anos de idade, em 1989, o sambista paulistano Nelson Fernando Morais, o Branca di Neve, tinha acabado de gravar o segundo disco solo, incluído neste CD que resume sua trajetória nos títulos Branca Mete Bronca Vols. 1 e 2. Antes disso, ele tinha passado pelos Originais do Samba, roncou surdo com o Luis Wagner guitarreiro celebrado por Jorge Ben Jor, seu ídolo e modelo, com quem também tocou, além de Nara Leão, Baden Powell e Toquinho. Os dois discos refletem a influência do samba rock ou suingue do Babulina que se transformaria na célula básica (depois deturpada) do pagode paulista. Com sua voz quebrada que em alguns momentos lembra Luís Melodia, agulhada pelos sopros gingantes do estilo, Branca canta outros expoentes do setor como Bedeu (Kid Brilhantina), Luis Wagner (Oi), Marku (Canaviá), Zelão (Boca Louca), além das próprias composições, uma delas, A Cor de Deus, que ele chegou a mandar numa apresentação para o bispo africano Desmond Tutu numa visita à Bahia. Com uma taxa de originalidade maior que a do diluidor Bebeto, Branca desenvolve uma ramificação da matriz benjoriana, incluída nos discos em duas contribuições menores, Falsa Magra e Quer Moleza. Para completar, Salgueiro é Raiz cita o verso inicial de Lá Vem Salgueiro e a adaptação para suíngue de Fico Louco de Itamar Assumpção evoca de início Bebete Vambora, ambas do mestre-escola. A morte precoce de Branca cortou as asas desse ramal promissor do samba rock. : Clique Music (Tárik de Souza)


"Fala tu que eu tô cansado" (bordão)

“Conheci o Branca pessoalmente no ano de 1974 na casa do Sr Sebastião o famoso Pé Rachado. Foi a ano da fundação da então nova escola do Pé, a Barroca Zona Sul. A amizade com a família Amaral vinha do Vai Vai do Bixiga onde Branca era o surdo principal. A simpatia o talento e apuro musical do Branca como percussionista fez com que fosse requisitado para gravar com grandes nomes da MPB com isso veio a profissionalização que o levou a várias excursões pelo Brasil e exterior. Nos anos setenta o samba imperava em vários bairros da capital paulista. O termo usado para se referir às casas de shows era "sambão". No Bixiga tinha a Catedral, o Jogral e Teleco-Teco, o Paulistano da Glória na Liberdade, o Arakan no Aeroporto, o Garitão e o São Paulo Chic na Barra Funda, na região do Centro tinha o Som de Cristal, o Transatlântico, o Aristocrata, o Beco, o Cartola, o Oba-Oba de Sargentelli e no bairro de Moema o Villa Samba, o Barracão de Zinco e o Moema Samba, lugares por onde o Branca ergueu sua carreira acompanhando muitos bambas com a firmeza do seu surdo indelével.
         "Se a onça morrer, o mato é nosso". (bordão)          

Branca di Neve chegou a integrar o mais famoso grupo de samba da época os Originais do Samba. Também fez parte do time que acompanhou Toquinho durante alguns anos. Nesse tempo na Barroca Zona Sul, Branca desfilava como "celebridade", um bamba que tinha dado certo. Ele também tocou na Banda do Zé Pretinho do Jorge Ben. Tempos depois, pouco antes dele gravar o seu primeiro disco, a gente se cruzava tocando pelos bares do Bixiga. Em outras oportunidades, nos víamos pelos estúdios, palcos e rádios. O sucesso do LP Branca mete bronca! foi instantâneo. Quem viu viu! Enquanto o Sr. Sebastião e o seu filho Ubiapaba, o amigo Binha, estiveram à frente da Barroca, a bateria da escola contou com a presença estimada do Branca nos desfiles de carnaval. Infelizmente, após o enorme sucesso do seu primeiro disco - Branca mete bronca! - e já se preparando para lançar o Volume 2, no ano de 1989, aos 38 anos o grande sambista paulistano Nelson Fernandes Morais, o Branca di Neve partiu fora do combinado. Além da perda irreparável para seus familiares o artista deixou saudade numa legião de admiradores da qual eu faço parte. Ficou eternizado o seu estilo único, da sua “levada” suingada e vibrante que passou feito um meteoro e segue sua órbita no planeta do Samba.

"Como só há de ser, o tempo trás as lembranças dos sentimentos raros. Eu e um velho amigo e parceiro, Zé Nívio escrevemos um samba rock que presta uma modesta homenagem ao Branca e ao gênero que ele muito contribuiu para firmar, e quem sabe ajudamos a conservar a história musical desta cidade."


BALANÇO NA REDE
Dorinho Marques/Zé Nívio

Eu fiz um samba rock virtual
Guitarra e suingue, coisa e tal
Teclado, gigabyte, baile com um som digital

Não nasceu de um jeito natural
Mesa de boteco, reco-reco
Ganzá de lata cerveja, ora veja!
Mas teve a lembrança do Branca di Neve
Que malandreava o samba como se deve
Meu samba vai pra rede social
Aristocrata, Chic Show e Som de Cristal
Navega na internet sobre as ondas de um balanço geral

Compasso na palma da mão
O mouse na palma da mão
Agora a banda é larga e se larga na computação

Novembro/2011
Dorinho Marques
dorinhomarques@yahoo.com.br

Comentários

  1. Eu e meu parceiro Nadão, por sermos amigos e fãs desse genial Branca DI Neve, fizemos essa que é uma da músicas mais interpretadas no Bexiga que aliás, tem a cara do Sol que a gravou, Dorinho Branca realmente meteu bronca e o que o destacava era sua humildade, sabia chegar e respeitar seus parceiros de profissão. Esse era sambista de fato







    Estrela guia

    Nadão e Ademir



    Eu tenho fé
    Que vou encontrar um dia
    No meu caminho
    Vai ser uma estrela guia

    Olhei pro céu
    E vi em você estrela
    Tua beleza brilhou
    Num acalanto

    Branca, Salgueiro, Vai-vai um Gavião

    Tenho a certeza
    Que muitos outros virão
    Pra entoar este canto
    Por todo canto do chão

    E a menina de uma boca louca... Muito louca
    Não esquece o nego Dito
    Meu nome é Benedito João dos Santos Silva Beleléu
    Veja só como é bonito
    Quero ouvir o teu cantar

    Branca...

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    Respostas
    1. Desculpe o atraso Ademir. Obrigado pela atenção. Ainda não conhecia sua música sobre o Branca tá tudo nela, parabéns meu camarada.Vou procurar saber né! Abração

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  2. Devia ser mais lembrado musicas com muito suwing insubstituível Branca de Neve faz muita falta. Hoje baixei algumas músicas dele.

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