ÁCIDA CIDADE
A cidade escolhe
seus novos administradores e muitos não ficam satisfeitos por terem os seus
votos contrariados, mas gostaria de salientar que a vida segue e o movimento
político é perpétuo e nada pode impedir a mutação social. Na história é a
partir de uma célula vanguardista que a revolução se instala, por outro lado
jamais teremos um povo cem por cento politizado, consciente e participante. No
nosso caso ainda amargamos os efeitos nefastos dos anos de chumbo que trouxe um
retrocesso obscurantista. As últimas gerações são crias do medo e da
desesperança que sublimou o individualismo em detrimento da solidariedade, principalmente nas classes mais
favorecidas. Muito embora não pareça, ventos novos estão soprando e a luta não
será mais apenas entre o Rei e o peão. Virá o despertar da novidade com a livre
circulação das ideias fronteiriças desmanchando os pilares do velho mundo. O
sonho não acabou. Acredito firmemente na melhora embora possa não estar de
corpo presente quando o grande evento se consolidar, mas o importante é que
sabemos que a nossa voz jamais pode calar.
Qual é o tempo que nós vivemos de
fato neste ambiente hostil da nossa capital? São Paulo de Piratininga arcabouço
de sonhos possíveis e outros irrealizáveis; dos totens de pedra e vidro
apinhados de operários previsíveis capazes de cumprir o intensivo organograma
da grande colmeia. Somos os novos templários dos templos vários que são
erguidos em honra e glória do lucro e nada pode fugir ao traçado do Sucesso. Os
combatentes não devem arrefecer nunca, pois a batalha nunca amanhece vencida –
essa história de matar um leão por dia -. As luzes arregalam os infinitos olhos
engolindo a escuridão da noite sem luar e permite o revezamento incessante dos
serões dos obreiros noturnos. A impressão causada é de que o amor possível é esse; o amor sequela que dorme nas cabeças de porco e quitinetes sem ar
condicionado, claustrofóbico. Nas tortuosas vias sombrias podemos deparar com
zumbis desorientados que nem espanto causam mais... Os gritos de alerta ecoam
para logo desaparecerem abafados por estampidos de prontidão. O território é
disputado pé a pé, mão a mão onde são permitidas múltiplas escolhas com direito
a correção de desvio de rota com uso de tarjas pretas e eletrochoques
opcionais. Se nada resolver; a vala comum é o destino mais provável; onde os
préstimos de um operador de micro ondas poupará o gasto com flores e ataúde e
visitas nos dias de finados. Mas há uma compensação; as mazelas são todas
devidamente tratadas, paliativa ou cirurgicamente. Os doentes são aqueles que
não suportam viver na base da pirâmide e insistem em escalar alguns degraus e
caem e se machucam. Apesar da conspiração da profecia maia, dois mil e treze se
avizinha. Um novo “síndico” vai administrar a cidade-condomínio que deve
estabelecer suas regras de convivência, hierarquicamente é claro. O rebanho
geralmente é obediente, mas quando alguma ovelha desgarra, um aboio sistemático;
monocórdico e uníssono; trata de reconduzir a “negra” perdida ou de outro modo
mandá-la para o abatedouro, simples assim e nem lágrimas de crocodilos serão
derramadas.
Dorinho Marques
São Paulo, 28/11/2012
dorinhomarques@yahoo.com.br
Dorinho Marques
São Paulo, 28/11/2012
dorinhomarques@yahoo.com.br
Comentários
Postar um comentário