MÚSICA A MUSA VOLÁTIL


                 AS NOVE MUSAS                                                              
A música popular brasileira é considerada uma das mais belas e ricas do mundo. Devido a nossa formação étnico-cultural apresenta uma diversidade enorme de fontes e influências. Mas até o início do século XIX a música portuguesa de origem europeia era a trilha sonora dessas plagas. Os nativos, claro, tinham sua própria tradição musical com forte base rítmica, mas com a vinda dos jesuítas, cantos católicos e a dança folclórica europeia foram assimilados dando origem aos festejos tradicionais.
Os africanos e mestiços produziam e tocavam a modinha de origem portuguesa e o lundu – dança e canto de origem africana - nas festas, saraus e nas ruas.  Essas formas musicais foram os mais populares no período do Império.
 ISTO É BOM  (Primeira música gravada no Brasil)

A partir do final do séc. XIX o Brasil começa a produzir um tipo de música que se pode chamar de brasileira.  A base era europeia ou africana, mas seu fraseado único não era mais nem uma coisa nem outra. Com o maxixe, o Brasil ganha uma forma musical própria. Também o choro tocado pelos grupos de exímios instrumentistas e improvisadores com violões e cavaquinhos. Tem início nessa época a Era do Rádio. Os primeiros intérpretes populares surgiram com as rádios Mayrink Veiga e Nacional – RJ. Em meio ao processo de urbanização do início do século 20 surge o Samba que viria tornar-se um emblema da identidade nacional. O gênero foi se fortalecendo, surgiram variações modernas e grandes criadores.


                                                  PELO TELEFONE (Primeiro samba gravado)
Para escrever um resumo histórico da música popular brasileira devemos traçar uma linha cronológica e também evolutiva desde a formação, propriamente dita, que parte do final do sec. XIX e vai até o começo do sec. XX. Um país continente com uma usina de ritmos resultados da fusão de diversas expressões musicais e que se espalharam pelo país. Cantores e cantoras, excelentes intérpretes de uma música eclética, conquistaram o Brasil e também o exterior ao longo dos anos. Sucesso também no cenário internacional a sofisticada música instrumental brasileira, da escola do Choro e da Bossa Nova, foi assimilada por músicos e pelo público do mundo inteiro. Até a TV brasileira se instalar no país o Rádio e o Cinema nacional foram os principais meios de divulgação da nossa música.
                                                          CANTORAS DO RÁDIO
A partir de 1960 a produção musical passou a contar com a força da televisão e apesar de conturbado na política, foi esse um dos períodos mais próspero da MPB. Novas tendências surgiram com a Bossa Nova, a Jovem Guarda, os grandes Festivais, o Tropicalismo, a Vanguarda paulistana. A safra de compositores dessa época é de alta qualidade e perdura até os dias de hoje. O Rock veste o verde e amarelo, incorporando aos estrangeirismos elementos da música nacional, latina e africana. Vindo dos subúrbios das grandes cidades vários ritmos de origem popular conquistaram espaço e público diverso.
Rio de Janeiro e São Paulo foram polos de atração para a produção cultural de todo o país. A música popular desaguou todas as suas vertentes vindas de todos os rincões. Num ambiente urbano e efervescente tivemos de 1960 a 1990 a robustez de uma indústria fonográfica que atingiu o auge do crescimento até o advento da internet e da pirataria que desaqueceu o mercado. Mesmo assim é incessante o movimento criativo. Hoje a produção e comercialização não se restringem aos grandes centros, a regionalização autossuficiente é um fato. Por outro lado a pluralidade dá certa vertigem naqueles que querem projetar o futuro da música no Brasil. 
Nota-se após a revolução dos amplificadores, que a tecnologia digital é o novo fenômeno da música de massa. O pop moderno eletro acústico contracena com o acústico tradicional e parece agradar às novas gerações.
A conexão global nas comunicações colabora na construção dessa cultura híbrida multifacetada e plural que a indústria de consumo derrama no mercado volátil. Há uma diversificada segmentação de gêneros e estilos e no caso da música pop de massa ela está basicamente voltada para o entretenimento. O público brasileiro tem fama de ter alma musical embora obtida fora de uma educação formal, erudita. No entanto essa alma não possui imunidade para baixa qualidade ou falsificações que o mercantilismo impõe na arte. Recentemente alguns compositores debateram uma anunciada "morte" da canção pelo menos no formato consagrado no século passado. É fato que a fórmula esgotou-se pela excessiva vulgarização, e pela facilitação que a tecnologia trouxe que permite qualquer gravação. Nos gêneros mais populares, na música com letra existe uma pasteurização que promove uma reciclagem permanente com mais do mesmo que causa a saturação. Ao mesmo tempo o download fácil e gratuito permite que o interessado acesse todo tipo e qualidade de música dando uma liberdade de consumo nunca antes experimentada. A música popular brasileira teve fases distintas. Depois da sua origem e formação veio a época de ouro do Rádio, o Cinema com seus musicais e com a chegada da TV - surgiram movimentos e ídolos e o mercado se solidificou, a indústria alcançou marcas milionárias até a fase atual onde os shows são a prioridade em termos comerciais, para artistas e produtores. Em suma a fase atual é da produção independente dos emergentes aos consagrados. Antes um artista de real valor ficava em evidência por anos a fio hoje podemos observar grandes estrelas à margem da grande mídia. O mercado só absorve o que pressupõe altos lucros e investe em artistas de "grife" ou nas novidades descartáveis. O compositor que quiser ter sua obra cantada tem que produzir a si mesmo e "inventar" formas de difundir e vender.
                                                                                           Dezembro de 2012
                                                                                            Dorinho Marques
                                                                               dorinhomarques@yahoo.com.br

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