O BRÁS SOMOS NÓS

BRÁS ANTIGO

“O Arnesto nos convidou prum samba, ele mora no Brás
   Nóis fumos não encontremos ninguém
   Nóis vortemos com uma baita de uma reiva
   Da outra vez nóis num vai mais”

SAMBA DO ARNESTO (Adoniram Barbosa/Alocin)


Cantarolando esses famosos versos do Adoniram Barbosa, peguei o velho trem do Barão de Mauá e deixei a mente vagar numa bruma matinal às margens do rio Tamanduateí nas bandas do Brás. Um bairro operário, berço de imigrantes, italianos em sua maioria e que tempos depois incorporou a migração nordestina dando feição ao lugar. Sempre que vou ao Brás rezo para não chover... Dá enchente na várzea e o caos no trânsito se instala. Mas chuva grossa não me molha então lá vou eu procurar o Arnesto. O cenário atual mudou muito! Foi-se o tempo do “Lembrar, deixe-me lembrar, meus tempos de rapaz no Brás...” O movimento agora é punk! O que vejo salta aos olhos em forma de um turbilhão de sacolas e sacoleiras vindas de todas as partes, e logo um mosaico de rostos de diversas origens é formatado. Entro numa loja e dou de cara com um cidadão do norte tentando comunicar-se com o vendedor sul coreano. Breque para o cafezinho é de lei, ouvi do Manel: - Essa região outrora foi área de cultivo do ouro verde! Meu bisavô contava que o nome desse bairro estava ligado à figura do português José Brás pioneiro chacareiro da região. Provei uma tapioca do baiano que me abordou na saída do botequim, o cardápio é trivial e variado e agrada a qualquer paladar. Um camelô boliviano, eu acho, abriu uma maleta e me ofereceu de um tudo. Falou que saía no samba da Colorado e que dizia no pé e tudo mais. Fiquei imaginando uma roda de samba formada por bolivianos cantando o samba do Adoniram com sotaque portunhol. Em vez do cavaco e viola um charango e uma flauta Pã, tudo certo! O Brás somos nós. É cenário de progresso e deterioração. Tem galpão abandonado, mas tem Metrô. Tem festa tradicional – a festa de São Vito – e tem um dos principais polos do comércio popular da cidade. O bairro teve origem humilde, várzea de rio, mas nunca deixou de crescer. O congestionamento aborrece. Às vezes uma correria causada pelo rapa, isso não é legal. Aumentei o som no meu head fone made-in-china, queria ouvir uma seresta, quem sabe uma das antigas que ainda ecoam nas paredes do cine Piratininga. Vida que segue...

Hoje os anos correm muito mais,
E as noites já não tem calor,
E uma saudade imensa,
É tudo o quanto resta,
Ao velho trovador.

RAPAZIADA DO BRÁS (Alberto Marino/A. Marino Jr)



                                     São Paulo, Agosto 2013
                                dorinhomarques@yahoo.com.br
                                    Dorinho Marques                                 




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