SANFONA BRANCA COM ASAS




Corria o ano de 1966. Um sanfoneiro baiano, Pedro Sertanejo, pai de outro grande músico o Osvaldinho do Acordeom, resolveu estabelecer um salão de forró, o primeiro em São Paulo e mais precisamente no bairro fabril do Brás. Foi na Rua Catumbi que se instalou entre as décadas de 60 e 80 uma rede social, um cantinho da saudade e da sociabilidade da comunidade migrante nordestina. Quem aguçar os ouvidos ao caminhar pela região ouvirá entre as polifonias da cidade o som da sanfoninha de oito baixos incansável, pois ao forrozeiro é proibido cochilar, e verá o furdunço do sacolejo de casais “castigando a chinela” triscada na paisagem sonora do lugar. Esse cidadão pioneiro criou também uma gravadora – Cantagalo – que deu oportunidade a dezenas de artistas que vinham em busca de seus sonhos. Entre eles estava Dominguinhos.



José Domingos de Morais, nascido no dia 12 de fevereiro de 1941 em Garanhuns, sertão de Pernambuco. Filho de mestre Chicão, sanfoneiro e afinador de sanfonas. Criança ainda ganhou um acordeão de oito baixos. - Logo ganhou as ruas e feiras para granjear um dinheirinho.  Um trio foi formado junto com dois irmãos – Os Três Pinguins – Nessa estrada o menino cresceu tornando-se proficiente músico. Seu destino estava traçado. Conhecer Luiz Gonzaga, vir morar no Rio de Janeiro. Era um garoto, tinha 13 anos e entrou para o time do Rei do Baião. Eta cabra bom! Viajou mundo afora aperfeiçoando sua arte. Entre seus amores curtiu Anastácia, forrozeira arretada com quem compôs o seu maior sucesso: Só Quero Um Xodó. Gravou mais de 40 discos solo e criou vários sucessos clássicos que estão nos anais da MPB. Sua reputação de excelente músico e arranjador o aproximou dos maiores nomes da música brasileira de diversos gêneros como bossa nova, jazz e pop, consolidando uma carreira internacional. O sanfoneiro mais criativo e importante do país que chegou aos 50 anos de carreira dando excelência à música nordestina morreu aos 72 anos -23 de julho 2013, para juntar-se aos mestres.  Em sua terra natal, mês passado uma asa branca foi avistada subindo ao céu azulzinho. Os conterrâneos de Dominguinhos que olharam para o firmamento juram que avistaram uma sanfona branca com asas... É possível, Dominguinhos era um encantador de multidões e sua partida tinha que ser gloriosa como sua música.                           
                                                                                
                                Dorinho Marques
                             Setembro de 2013   
                   dorinhomarques@yahoo.com.br
                                      
                       Matéria publicada em primeira mão no periódico A Voz do Brás
                     Ano 1 - Edição nº 3 – Agosto de 2013 - facebook.com/avozdobras 

                                                     T @AVozdoBras


                                                                                       

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