CLUBE DOS TREZE DO SAMBA.

Sobre a indagação: - Onde foram parar os negros que eram vistos no comando das escolas de samba? Também saí à procura e por isso vou aprofundar o tema, pois acho que ele toca numa questão primordial para o Samba: - Por quem e para quem é produzido o Carnaval Paulistano? Por outro lado a discussão aborda o racismo e no chamado mundo do samba parece que discutir esse assunto só serve para conturbar o ambiente do Carnaval que a cada ano mais se parece com o ideal de uma democracia racial muitas vezes decantada em letras de sambas enredos. Porém, e sempre tem um porém, nem tudo que reluz é ouro! Vejamos: Nos desfiles de 2013 tivemos treze escolas da Liga (Especial e Acesso) que são presididas por brancos, seis por "quase brancos" e apenas três por presidentes negros. Pode-se observar também que ao longo dos últimos anos várias trocaram de mãos no que se refere ao comando. Podemos listar: Vila Maria, X9 Paulistana, Tatuapé, Peruche e mais recentemente Nenê e Camisa. Algumas escolas outrora importantes despencaram no ranking, estão falidas ou extintas.

Convém salientar que eram em sua maioria agremiações de poucos recursos e de famílias negras. A meu ver isso só confirma uma constatação do que acontece na sociedade como um todo na qual os melhores postos sempre são ocupados por indivíduos das classes mais abastadas o que significa dizer os de pele clara. Agora vejamos; as escolas originariamente foram iniciativas de negros, mestiços e brancos pobres em menor escala, como uma atividade recreativa. Porém, na medida em que as escolas cresceram em quantidade e importância foram cada vez mais atraindo a classe média e até os ricos interessados em multiplicar seu capital, em visibilidade política etc. Os próprios sambistas, em sua maioria, reconheciam que os "intrusos" estavam mais "preparados" para administrar uma agremiação com exigências de empresa e foram outorgando espaço e poder. Com isso vão acontecendo muitas transformações nas escolas e na estrutura dos desfiles, umas positivas e outras nem tanto e algumas desastrosas como a mercantilização do samba e sua pseudo profissionalização, com a ressalva de que isso é um fator novo no carnaval paulistano, mas que já havia ocorrido antes no Rio de Janeiro, vide inclusive, a forte participação dos contraventores.  São Paulo reproduz tudo que tem no carnaval carioca, pro bem e pro mal. Houve o aumento da participação da classe média outrora avessa à festa "desse povo pobre", mas por outro lado inibiu fortemente a comunidade mais carente que acabou deixando a escola de lado. Muitos se sentem usados sem receber nada em troca, enquanto diretores que defendem o sistema se beneficiam. As agremiações querendo "compensar" criaram as "alas da comunidade" oferecendo fantasias sem custo aos componentes, mas tirando dos mesmos a livre escolha. Se pagar o ágio escolhe a fantasia.     

Essas pessoas perdem a identificação com a "nova escola" acabam saindo e deixam suas vagas para turistas e “baladeiros” de última hora. Não é a toa que a maioria das escolas hoje não vêm com samba no pé. Agora é o tal de "sai do chão".  Eu não sou purista ou desejo uma volta ao passado, mesmo porque isso não acontecerá mas, não posso tapar o sol com a peneira diante do atual momento do carnaval. Vejo com bons olhos a participação e integração social de todos no carnaval desde que sejam respeitados os preceitos do Samba e isso significa alterar alguns rumos que a festa tomou. Tem que combater as falsificações que atingem a própria base cultural.  Politicamente é preciso democratizar a escola. O passado não volta, o presente é o que se apresenta mas o futuro poderá ser muito melhor. Não se pode postergar a mudança que deverá ter agremiações verdadeiramente voltadas aos interesses da coletividade. Quem viver verá.

Dorinho Marques

Agosto 2013

dorinhomarques@yahoo.com.br