AS COMUNIDADES DO SAMBA



Salve gente boa do samba! Esta coluna apresentará histórias reais, registros, resgate de memórias e valorização de sambistas de São Paulo. Sou nascido e criado na capital paulista e pelo menos nos últimos quarenta anos, vivenciei o universo do samba e acompanho par e passo as dificuldades e também os esforços dos defensores da nossa cultura popular. O movimento do samba, ciclicamente mostra avanços, seja na renovação da sua produção, na multiplicação de adeptos e na abrangência da ocupação do espaço artístico. Penso que vivemos um bom momento apesar da contumaz indiferença da grande mídia, do pouco incentivo dos agentes culturais do Estado, da mudança da forma de se comercializar música etc. E esse bom momento pode ser notado no aumento da produção de música gravada. Finalmente o acesso a estúdios por parte dos artistas marginalizados é uma realidade e a inclusão na Internet desse novo bloco de sambistas é um fato alvissareiro. Também a resistência em defesa da verdadeira cultura traz um novo alento, ainda trôpego, por tratar-se de uma área que antes só era ocupada pela grande indústria que tinha os meios, os agentes e a grana para selecionar, cercear, manipular etc., conforme seus interesses. Demorou, mas uma brecha abriu-se e o sambista está aproveitando, realizando projetos e conseguindo alguma visibilidade, Mas é preciso mais, muito mais. O sambista não tem que se contentar com quireras oferecidas pelo mercado. O samba não pode ser reduzido à música de época - o carnaval, por exemplo - nem  atividade recreativa de fim de semana. O Samba é vital, energia pulsativa, reflexiva, socialmente importantíssima e politicamente revolucionária.
O samba tem ancestralidade africana. Um dia cruzou o mar nos navios tumbeiros e desembarcou nas senzalas, alojou-se nos morros e favelas depois “ganhou” o asfalto das cidades. São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro são estados onde o samba ocorre mais vigorosamente. Várias outras localidades     preservam o gênero ora mais rural ora mais urbano apenas não repercute nos meios de comunicação de massa. Nesses escabrosos caminhos o samba segue conservando sua identidade. Dinâmico, ele é a soma da polirritmia dos batuques com a riqueza da língua portuguesa. Resiste contra falsificações, vulgarizações e a concorrência massiva de outros cânticos. Tradicionalista em atitudes e valores, porém aberto a inovações que respeitem a sua linha evolutiva transmitida hierarquicamente, de mestre para aprendiz. O samba tem muitas vertentes, e o “de raiz” é uma delas, conservando a sua forma mais autêntica nas rodas improvisadas de canto e dança com a participação coletiva dos sambistas. Hoje, nos grandes centros urbanos, existem comunidades revitalizando o seu legado. Em São Paulo, partindo da periferia, existem vários núcleos de novos sambistas que defendem a bandeira do samba. Alguns já fazem ecoar os seus cantos e tambores por toda cidade. Podemos ressaltar o Samba da Vela, Samba da Feira, Pagode da 27, Samba de Todos os Tempos, Samba Autêntico, Samba do Monte, Samba da Cultura, Berço do Samba de São Mateus, Maria Cursi, Samba da Tenda, Kolombolo, Quilombo, entre muitos outros.  O importante desse movimento é que muitas pessoas podem desenvolver sua vocação musical, preservando uma cultura genuína ou simplesmente, divertirem-se com música que é a melhor maneira de celebrar.    
                                                            Dorinho Marques
                                                                                     Dezembro 2013             

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