SINAL FECHADO


 

Parei no sinal vermelho. Um sol de rachar a catedral. Aproveitei para tomar um gole de água mineral morna, enquanto teclo o dial do rádio. Aumento o volume e deixo uma música reverberando no para-brisa do carro. Remonta aos anos 70 dos Festivais da Record. É “Sinal Fechado” do Paulinho da Viola – “Olá, como vai?/ Eu vou indo e você, tudo bem?/ Tudo bem eu vou indo correndo, pegar meu lugar no futuro...”.                                                   
                                               
Mais de 40 anos depois posso constatar: a situação se alterou de tal modo que aquela vida apressada deu lugar à vida ralentada. Quem andava a cem hoje só anda a dez! Temos pressa para tudo; para dormir se conseguir, comprar, comer, para ir e vir. Passeios e lazer somente com uma boa dose de aborrecimentos. Nas palavras do saudoso escritor Millôr Fernandes – O tempo não existe. Só existe o passar do tempo. Poderei estar retido no saguão do aeroporto em mais um voo cancelado, apertado num ônibus ou trem lotado, perfilado no cordão de aço quilométrico no tapete de asfalto. Até o bloco das motocicletas se move lentamente como um enxame zonzo. Na hora do rush, feito um bando de urubus metálicos, helicópteros ocupam o céu cinzento suspenso no ar. Neles, manipuladores de marionetes, repórteres caçadores de tragédias, executivos pontuais... São os únicos objetos ligeiros à vista. A frota existente na capital paulista ultrapassa os 7,5 milhões de veículos, desses, 5.4 milhões são automóveis. Segundo alegam os usuários isso se deve à precariedade do transporte coletivo. A infraestrutura urbana não acompanha a demanda. O governo cogita a cobrança de pedágios urbanos a população reage – Mais imposto? Um batalhão de corajosos camicazes se arrisca com suas bicicletas. Aqui nem de longe lembra Pequim. Temos direito à cidade. Se deslocar nela e acessar os diversos serviços que ela insiste oferecer. Fala-se em corredores de ônibus, mas a necessidade e o apelo do status de possuir um automóvel falam mais alto! No cotidiano o noticiário anuncia, como se fosse uma gincana macabra, mais um congestionamento monstro que bateu novo recorde, 309 km! Tarde de quinta-feira 14 de novembro, véspera do feriado da Proclamação da República.  A população da periferia para garantir seus direitos constitucionais mais elementares, como chegar ao local de trabalho ou voltar para casa, terá que fazer um sacrifício redobrado. Mobilidade, melhor qualidade de vida, cuidar do meio ambiente ou incentivo ao uso do transporte coletivo são medidas urgentíssimas! Mas são medidas contrárias aos interesses econômicos vigentes. A poluição pela emissão de gases tóxicos vem na contramão do estímulo ao crescimento da indústria automobilística. Alterações urbanísticas versus empreiteiras. Uma tarifa que não seja paga diretamente pelo usuário esbarra na lucratividade das empresas. O ano está findando, o ritmo se acelera e a roda viva das festividades do Natal e réveillon se avizinha. 2014 será um ano atípico com a visita de milhares de turistas estrangeiros. São Paulo terá que se superar! Um passo para o sucesso ou um mergulho no caos. Desejar feliz ano novo não basta: é preciso buscar saídas para “felizes novos tempos".

                            Novembro 2013
                            Dorinho Marques
                   dorinhomarques@yahoo.com.br

                             




  
                                                                                                    

                                                                                

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