A CENA QUE SE REPETE É TRÁGICA.
O país vive hoje, grandes debates que intranquilizam a sociedade brasileira. Entre eles, quero destacar um de ordem fundamental, que é a educação. Tema recorrente em todas esferas das várias instituições e que nos leva a perguntar: É decente um país que não oferece acesso igual na qualidade da educação de suas crianças? A partir do pressuposto que uma nação é formada por cidadãos, óbvio que a resposta é não. Negar, negligenciar, não priorizar a educação como princípio básico para a formação do cidadão, além de ser anti republicano, é um ato pernicioso que deveria ser classificado como crime hediondo. Pitágoras 500 anos a.C. já dizia: - “Eduquem as crianças e não será necessário castigar os homens.”. Mas não é isso o que ocorre em nossa pátria em pleno século 21! - O Brasil está entre os dez países que concentram a maior parte do número de analfabetos adultos do mundo, ao lado da Índia, China, Paquistão, Bangladesh, Nigéria, Etiópia e Egito. De acordo com o 11° Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, divulgado nesta quarta-feira 29 pela Unesco, esses países concentram 72% do total de 743 milhões de analfabetos. A taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais no Brasil é 8,6%, totalizando 12,9 milhões de brasileiros. - Temos neste relato as razões do agravamento das desigualdades e contradições que barram nosso potencial de crescimento em todos os sentidos. Até o presente momento é triste constatar que Darcy Ribeiro tinha razão ao afirmar que a crise na educação brasileira não se trata, na verdade, de uma crise, mas sim de um projeto. Quando as pessoas falam de segurança, por exemplo, estão reclamando ao poder público a proteção dos cidadãos de "bem" contra as mazelas da violência e do crime. Isso reflete uma ânsia por mais punição de uma sociedade imediatista e que não se preocupa com as causas da violência. Eis o que diz o presidente do Tribunal de Justiça de SP. - "Estamos em uma República enferma, 100 milhões de processos no Brasil. É uma coisa invencível. Nós, em São Paulo, crescemos demais. Somos o maior Tribunal de Justiça do mundo, e não há mérito nisso porque também temos os maiores problemas". A ideia de que apenas a prosperidade material, que na prática é um maior poder de consumo, poderá atenuar os conflitos sociais é também fruto desse imediatismo que reivindica o aumento da segurança para a vida e o patrimônio como ideário político social.
Os Titãs perguntaram no rock - Comida -, composição de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Sergio Britto. "Você tem sede de que ? Você tem fome de que?" Em cuja resposta pedia: liberdade, diversão e arte, não só comida e dinheiro. Uma educação democrática de boa qualidade irá produzir a sedimentação e a elevação da cultura de um povo que por conseguinte produzirá cidadãos melhores e portanto um estágio civilizatório superior ao estado vigente. Outra questão polêmica que nos aflige é a discussão sobre a maioridade penal. Uma questão intrinsecamente ligada à educação ou à falta dela. Cabe aqui um esclarecimento. As pessoas em geral não atentam para a diferença entre maioridade penal e idade de responsabilidade criminal. No Brasil a maioridade penal é para maiores de 18 anos enquanto que a idade de responsabilidade criminal e para maiores de 12 anos. Um projeto de lei quer modificar o código penal e baixar para 16 anos a maioridade penal. Em tese crianças e adolescentes infratores são amparados pelo Estatuto da Criança e Adolescente mas, ao serem recolhidos às instituições tais como a Fundação Casa, já estão sendo mais punidos do que criminosos adultos.
Menor Abandonado é nome de um samba de autoria de Pedrinho da Flor, Mauro Diniz e Zeca Pagodinho que aborda essa questão com a clareza de quem sofre com a criminalização da pobreza. "Quero estudar, me formar, ter um lar pra viver, e apagar essa má impressão, que em mim você vê". É o grito dos excluídos , mas a maioria parece que faz ouvidos de mercador.
Quem dera o dilacerante poema da canção Meu Guri do Chico Buarque venha a ser lembrado apenas como a descrição de um tempo mau, mas que passou... Por hora, a cena que se repete é trágica. "O guri no mato, acho que tá rindo, acho que tá lindo, de papo pro ar Desde o começo eu não disse seu moço! ele disse que chegava lá... Olha aí! Olha aí! Olha aí! Ai o meu guri, olha aí, olha aí! É o meu guri! Não se trata de consultar a opinião pública e daí concluir que é preciso alterar o código penal. Isso é tarefa para especialistas de diversas áreas como: sociologia, antropologia, medicina social, psicologia de desenvolvimento, história e direito, e não atributo de um mandato de qualquer deputado. Trata-se de ter ouvidos e olhos para entender as causas endêmicas, encalacradas e que são afinal, o cancro que corrompe o tecido social. Se quisermos de fato curar as feridas e mudar o curso da historia do nosso país, não podemos nos iludir com paliativos que atacam apenas os efeitos nocivos da nossa conturbada formação histórica. O caminho é outro e ele certamente passa pela reforma do ensino básico com investimento prioritário na educação para todos os brasileiros. Num futuro próximo, talvez um dia, poderemos enfim considerar iguais os direitos e deveres de todos brasileiros. Como referência de luta e esperança recorro à voz do líder Nelson Mandela, Prêmio Nobel da Paz de 1993, que disse - "A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo."
Abril/2015
dorinhomarques@yahoo.com.br
Comentários
Postar um comentário