CHORA VIOLA!


O mês de março registrou tristemente a perda de dois grandes artistas da música brasileira . José Rico e Inezita Barroso. Dia 3 de março de 2015,  José Alves dos Santos o Zé Rico da dupla Milionário e Zé Rico,  alcunhada de "As gargantas de ouro do Brasil", despediu-se de uma carreira exitosa de mais de 40 anos. José Rico foi também um grande  compositor, o Brasil de norte a sul  cantou: " Nesta longa estrada da vida, vou correndo e não posso parar..."  - Estrada da Vida - (José Rico) sucesso marcante que deu título ao filme homônimo, de 1980  estrelado pela dupla e baseado na própria vida deles.  O filme Na Estrada da Vida conquistou o primeiro lugar no Festival Internacional de Filmes de Brasília. Foi vendido para diversos países inclusive a China onde excursionaram no ano 1985.  Foi a primeira dupla brasileira que visitou esse país! Venderam cerca de 35 milhões de exemplares de seus 29 discos e 2 DVDs desde  1973. Aos 68 anos José Rico despediu-se desta vida deixando muita saudade no mundo sertanejo. Versos da sua  composição de maior sucesso serviram de réquiem na despedida: "Mas o tempo cercou minha estrada, e o cansaço me dominou, minhas vistas se escureceram e o final desta vida chegou"


A outra estrela que se apagou era uma diva da mais pura tradição da música caipira. Inezita Barroso, nome artístico de Ignez Magdalena Aranha de Lima natural de São Paulo, nascida no dia 4 de março de 1925. Mulher ativa, foi cantora, atriz, instrumentista, bibliotecária, folclorista, professora, apresentadora de rádio e televisão. Um dos pilares de resistência da nossa história e memória cultural. Em tempos de mediocridade artística e mercantilização excessiva da música popular, ela foi uma defensora combativa, lúcida e  coerente. Inezita Barroso era prenda rara. Cantora de uma voz potente, daquelas que não precisava nem de microfone. Gostava de tocar violão. Sabia dos causos e histórias desse mundão velho sem porteira. Foi mestra do folclore brasileiro e ensinou até seus últimos dias. Foram 60 anos de carreira em 90 anos de vida. Inezita nasceu numa familia abastada. Amante da música, cedo começou a cantar e tocar violão e viola. Estudou piano em conservatório,  graduou-se em biblioteconomia na USP mas a carreira de cantora profissional falou mais alto. Suas criações como intérprete ficaram na memória do povo. - "Co'a marvada pinga é que eu me atrapaio, eu entro na  venda e já dô meu taio, pego no copo e dali num saio, ali mesmo eu bebo, ali mesmo eu caio, só pra carregá é que eu dô trabaio, oi lá" (Moda da Pinga, de Ochelsis Laureano e Raul Torres) ou "De noite eu rondo a cidade a lhe procurar sem encontrar..." (Ronda, de Paulo Vanzolini). - A partir de 1980 passou a comandar o programa Viola, Minha Viola pela TV Cultura de São Paulo.  Apresentou também no SBT um programa musical, aos domingos pela manhã que levava seu nome. Seu bom humor e carisma fizeram dela uma excelente apresentadora que foi amada por um público fiel e por todos artistas prestigiados em seus programas. A moda de viola e os violeiros em especial, tinham nela uma mãe protetora. Inezita promoveu e defendeu a sonoridade acústica até o fim. - No Viola, Minha Viola o conjunto fixo não usa instrumentos eletrônicos e bateria - Inezita fazia crítica às vertentes de música sertaneja que se distanciavam de suas raízes. Foi uma fiel zeladora, resistente, ativista da causa. Ainda não é possível mensurar essa imensa perda mas esperançamos que a semeadura da grande dama da cultura popular brasileira dê muitas flores e frutos. O dia de sua morte: 8 de março, dia Internacional da Mulher. O destino prestou-lhe homenagem pois, Inezita, moça de família, enfrentou preconceitos à época ao optar pela carreira artística, demonstrou ser uma mulher de fibra e determinação que a levou do pioneirismo ao estrelato. Atuou em teatro e cinema. Ganhou prêmios importantes como: Roquette Pinto, melhor cantora de rádio; o prêmio Guarani, melhor cantora em disco e o prêmio Saci de cinema, melhor atriz pelo filme:- Mulher de Verdade (1955). Recebeu o título de doutora honoris causa em folclore e arte digital pela Universidade de Lisboa. Inezita era reconhecida e admirada também em vários países latino-americanos e africanos. Foi indicada para o Grammy sul-africano na categoria de artistas vocais populares internacionais e regionais. Em novembro de 2014, foi eleita para a Academia Paulista de Letras. Bem, agora resta a saudade... Quando ouvirmos a canção de outra saudosa paulista, Zica Bergami, autora de "Lampião de Gás" (1957), iremos nos transportar para uma São Paulo que não mais existe mas que há de exaltar com orgulho, quem com sua arte imortalizou estes e tantos outros lindos versos do nosso cancioneiro mais autêntico. "Lampião de gás, lampião de gás, quanta saudade você me traz". Descanse em paz, Inezita !    

                  
                         Dorinho Marques
                                                                                                                             dorinhomarques@yahoo.com.br
                                                                                                                                          25/03/2015
                                                                   

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