AS CANÇÕES NATALINAS E A FACE DO BOM VELHINHO.





Papai Noel a figura bondosa e carismática de outrora, representante simbólico do espírito do Natal que é uma festa da Cristandade, teve sua representatividade diminuída ao longo dos anos, por conta de valores distintos das sociedades. Sua imagem ultimamente está diretamente relacionada aos hábitos de consumo dos cidadãos e sua importância oscila dependendo do momento econômico. No Brasil, graças à ascensão de uma nova classe média, muitas pessoas puderam incluir a “existência” do Bom Velhinho, ainda que modestamente, podendo materializar pequenos desejos de consumo. Já que Noel nos dias atuais está irremediavelmente ligado ao consumismo é “normal” ele revitalizar-se mesmo sendo sistematicamente criticado por aqueles que veem nele apenas exploração e deturpação do verdadeiro espírito natalino. Além do mais ele é um garoto propaganda exitoso que impulsiona as vendas de fim de ano e por outro lado, remete ao mundo da imaginação das crianças e das recordações dos adultos. Antes o Bom Velhinho era a certeza de presentes apenas para os filhos dos mais ricos e ficava mais na base da promessa para milhares de pobres que dependiam de ações de caridade das instituições e empresas, digamos, participativas. Temos na MPB alguns clássicos que espelham essa relação de apelo ao coração das pessoas para atender o sonho de uma criança pobre. - Assis Valente compôs a música Boas Festas em 1933. Ela foi gravada e imortalizada pelo cantor Carlos Galhardo. Boas Festas é usualmente chamada de “Anoiteceu” e pode ser considerada a Canção de Natal do Brasil. 


Recordo uns versos que dizem: “Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel...”. Mais adiante, “Papai Noel vê se você tem a felicidade pra você me dar.” A marchinha traduz o sentimento de desigualdade e apela ao Papai Noel que lhe traga nada menos que a felicidade. Outros compositores criaram canções de natal em que aparece a mensagem de solidariedade e caridade, dois pilares do caráter do nosso povo e que não deveriam ser relegadas a um segundo plano. Blecaute, um sambista muito popular nos anos 50/60, compôs uma valsinha “Natal das Crianças” lançada por ele em 1955 e que dizia num trecho: “Blim, blom, blim, blom, blim blom, o Papai Noel Chegou, também trazendo presentes, para a vovó e vovô” – Neste caso todos eram contemplados inclusive os mais velhos.
Gravado originalmente pelo cantor João Dias em 1953, "O Velhinho" é outro clássico natalino da MPB composição de Otávio Filho e que tem um refrão que diz: 


“Como é que Papai Noel, não se esquece de ninguém, seja rico , seja pobre, o velhinho sempre vem...” Claro nem todos concordam e até criticam o que classificam como ingenuidade popular, no entanto sem a fantasia a vida é um vasto deserto. Portanto deixemos que as famílias celebrem a data como uma renovação de forças para enfrentar o ano novo que se anuncia e que trará certamente muitos desafios e agruras. Porém, e sempre tem um porém, é preciso não embarcar numa corrida desenfreada estimulada pelo consumismo demasiado. Sentir mais do que comprar, abraçar mais do que comer e beber e sonhar alto pois a Brasil ainda não realizou todo seu intento. Não tem problema repetir a mesma canção. Já vi e ouvi muita gente dizer que detesta aquela “musiquinha chata da Simone” Deixe de lado os mau humorados, cante se quiser pois está canção foi feita por um Rei e ela só aspira Paz e Amor ou então cante nossas canções mais singelas para abrandar toda e qualquer desesperança. Toparemos os desafios que se avizinham com mais firmeza se entrarmos no próximo ciclo alegres e dentro do verdadeiro espírito natalino.Com vocês, Simone cantando a versão de Claudio Rabello para  Happy Christmas (War Is Over) de John Lennon e Yoko Ono. “Então é natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez. Então é natal, a festa Cristã. Do velho e do novo, do amor como um todo. Então bom natal, e um ano novo também. Que seja feliz quem, souber o que é o bem...”.


     Dorinho Marques
     Dezembro / 2015
     dorinhomarques@yahoo.com.br  
   



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